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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Além da Vida - Cinema

Além da Vida / Crítica
Érico Borgo
Na mesma época em que o cinema espírita move multidões no Brasil, em filmes de fácil conexão com o seu bem definido público, curiosamente temos a chance de analisar o tema sem o viés religioso (e os onipresentes tons pastéis) que o acompanham através da visão de um dos maiores cineastas contemporâneos. 


Não que Além da Vida (Hereafter), de Clint Eastwood, seja um filme espírita. Longe disso. O novo drama do octogenário realizador apenas se aproveita de alguns dos elementos que nos acostumamos a ver em produções com essa temática - mas não dá grande importância a isso. O personagem de Matt Damon no longa, afinal, é um médium de verdade, uma ponte entre os vivos e mortos, mas encara sua habilidade como uma maldição, preferindo fugir dela. Sua condição é algo que serve ao desenvolvimento da história e não à verdade incontestável dos filmes doutrinários.

A trama de Além da Vida costura três histórias distintas, passadas em São Francisco, Londres e Paris. Depois de uma experiência de quase morte na Tailândia (em uma sensacional sequência de abertura), a jornalista Marie Lelay (Cécile de France) retorna À França para se descobrir mudada para sempre. Enquanto isso, em São Francisco, o operário de usina de açúcar, George Lonegan (Damon), sofrfe pressão de seu irmão (Jay Mohr) para voltar as lucrativas leituras mediúnicas de seu passado. Em Londres, o menino Marcus (vivido pelos gêmeos George e Frankie McLaren) sofre a perda do irmão e a separação da família, com a mãe em tratamento para se livrar da dependência de drogas.

As conexões entre os três personagens demoram, mas são tão inevitáveis quanto a morte que os cerca de maneiras diferentes. Mais importantes que isso, não soam forçadas em momento algum. Pistas são plantas e respeitadas durante o lento (em algum momento arrastado) desenvolvimento do filme.

A primeira impressão quando analisamos o tema e a idade de Eastwood é que o cineasta veterano depois de tantas homenagens aos gêneros que o consagraram e críticas, estaria preocupado com a morte. No entanto, em entrevistas, Eastwood disse que fez o filme apenas por ter gostado do material - "o teria feito aos 30 anos", - diz, e que tem apenas uma curiosidade natural pelo tema, como qualquer um, e que a morte não é uma preocupação. Sua intenção é mostrar como a perda valoriza a vida - e aproxima os vivos.

O resultado é digno mas carece de relevância moral de um Gran Torinoou histórica de seu filmes anteriores, Invictus, Cartas de Iwo Jima, A Conquista da Honra e A Troca. Com tema de fácil apelo, final feliz, desenvolvimentos calorosos e imagético piegas (vultos no contra luz, nem os de Eastwood dá par aguentar) Além da Vida trata-se, portanto, de um dos romance mais fáceis já trabalhado pelo diretor. A diferença é que traves de um olhar experimentado de um mestre, mesmo o roteiro mais clichê ganha valor - e extrai-se do filme outras qualidades e momentos, como a assombrosa sequência inicial, a primeira grande experiência de Eastwood com grandes efeitos especiais. E nesse ponto, o velho cineasta não decepciona.

Um comentário:

  1. Sua intenção é mostrar como a perda valoriza a vida - e aproxima os vivos.
    Muito bom !!!

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