B L O G DOS E S P Í R I T O S

sábado, 12 de janeiro de 2013

Olá, como vai?

Octávio Caúmo
é  jornalista, escritor, poeta,
 palestrante,
articulista de
 jornais e revistas espíritas
 e dirigente do
 Centro Kardecista Os Essênios -
 João Pessoa -PB
Por Octávio Caúmo Serrano

             Quando alguém me cumprimenta - como vai? - digo que não vou melhor porque não quero. Mas se a pergunta for "está tudo bem?", respondo que não está melhor porque não deixo.
              São indagações que a maioria faz, sem qualquer interesse pela resposta. Uma formalidade de hábitos. Por isto, diante das minhas informações, é comum as pessoas sorrirem, porque imaginam que a intenção é brincar ou ser diferente diante de assuntos corriqueiros.
              Acontece que ao contestar estou sendo sincero e afirmando verdades. Não vamos melhor porque não queremos e não estamos melhor porque não deixamos.
              Não é bem assim, dirão. Os governos, os salários, a poluição, a insegurança, não permitem que vivamos tranquilos, por mais que nos esforcemos. Mas embora insistamos em culpar os outros, cada um é o seu próprio vilão. Se a vida é difícil, para nos ensinar a humildade, a forma como vivemos a torna ainda mais complicada. Por ser insaciável o homem nunca está satisfeito. Na luta diária para conseguir os bens, sonha com o primeiro carro, com a casa, com o apartamento na praia. Luta, consegue o carro, que logo depois não serve, deseja outro mais moderno e equipado. Compra a sonhada casa que, em pouco tempo, por lhe parecer pequena, quer dá-la de entrada e trocar por outra maior. Não precisa, mas quer. Logo depois, começa a reclamar que dá trabalho mantê-la. 
              Culpa a conjuntura econômica, a falta de empregados, o excesso de afazeres. Reclama das crises, mas põe na mesa comida em exagero que gera sobras que não come no dia seguinte.
              "A vida está pela hora da morte", reclama. Porém enfeita o filho com etiquetas famosas, para demonstrar status, na competição dos medíocres. Não inclui na sua educação a formação moral e religiosa, mas não dispensa o melhor colégio, o médico famoso e tudo o que o identifica como o filho de alguém bem sucedido.
             São os motivos do descontamento da maioria. Curiosamente, dos que têm um pouco mais de recursos, os de classe média, hoje na corda bamba. A pose é de milionário e o bolso de assalariado. Por ser escravo do meio, tem de aparentar o que não é e o que não pode sustentar. Sofre desgaste para manter as aparências, o que o obriga, é mais comum do que se pensa, a ser desonesto, mentiroso e desumano para não perder  a posição social. Ao enganar os outros não percebe que é o primeiro a ser enganado, porque sua vida não é de verdade, é artificial e frágil.
            Quando nos relacionamos com pessoas que apreciam o que somos, não o que temos, e deixamos de competir em poder econômico, tudo ficará mais fácil. Concluiremos que o essencial à vida é simples de ser conquistado e que a maioria das nossas infelicidades tem raízes no supérfluo, sempre dispensável, quando não desnecessário e inconveniente.  
             Independentemente dos flagelos que a ganância e o descontrole nos criam, os espíritas tem maiores razões para simplificar a vida. Aprendem sobre o desprendimento da matéria, a fim de não permanecer atrelados a ela depois da morte. Se o nosso tesouro está onde o nosso coração se situa, não é complicado entender que um encarnado avarento será um desencarnado sofredor. Se não mudarmos na vida, estaremos escravizados na morte. Alguém ainda duvida disso?
             Quem compreender esta verdade simples, andará noutro ritmo pela tortuosa estrada da existência. E se alguém lhe perguntar "como vai? , firmemente responderá: "Eu estou ótimo, felizmente, porque eu quero". E quando desejarem saber se "tudo está bem", dirá: "muito bem, obrigado, porque eu deixo".  
               Aproveito para acrescentar à matéria original, meus votos de Feliz Natal * desde que ele não precise para tanto de comprometimento do cartão de crédito ou do cheque predatado. Sem desvencilhar-se desses cruéis obsessores, ninguém pode ter um Feliz Natal nem começar bem o ano de 2013. O ano será melhor só se cada um cuidar do seu próprio ano novo. O tempo dos milagres já passou. Cuide-se para que ao lhe perguntarem "Olá, como vai?" você tenha algo inteligente para responder.

(Do livro Modo de Ver, da Casa Editora O Clarim) 
* Este artigo foi republicado na Tribuna Espírita de novembro/dezembro de 2012.

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