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Júlio Abreu Filho(1893-1972) |
APRESENTAÇÃO
Por Eugenio Lara
Editor do Pense
Esta biografia de Allan Kardec, que o Pense publica em formato digital, foi escrita pelo grande tradutor e erudito Júlio Abreu Filho, em 1955, como introdução complementar a uma compilação de texto do fundador do Espiritismo feito pela ditora Pensamento, intitulada Principiante Espírita.
Cearense, nascido em Quixadá, em 10 de dezembro de 1893, Júlio Abreu Filho concluiu o ensino fundamental no Colégio São José, na Serra do Estevão. Em Salvador, Bahia, estudou na Escola Politécnica, mas não terminou o curso. Em Ilhéus, trabalhou na Delegacia de Terras, órgão vinculdo à Secretaria da Agricultura. Foi funcionário daquela Prefeitura e da Estrada de Ferro Inglesa, onde teve importante participação na construção do trecho ferroviário entre Ilhéus e Vitória da Conquista.
Em 1921, no Rio de Janeiro, foi empregado da empresa de energia Light. Nesta mesma empresa, em 1929, tranferiu-se para São Paulo, onde trabalhou na construção na usina hidrelétrica do parque industrial de Cubatão.
Entre os anos de 1934 e 1935 foi professor do magistério secundário em vários colégios de São Paulo, capital. Em 1936, tornou-se funcionário da Secretaria da Agicultura do Estado de São Paulo, no departamento de engenharia rural, organismo responsável por diversos e importantes projetos no interior do Estado.
Júlio Abreu notabilizou-se no movimento espírita brasileiro pela tradução pioneira da Revista Espírita, de Allan Kardec, em um trabalho monumental, iniciado em 1949, fruto de seu idealismo e do profundo amor pelo espiritismo. Fundou a editora Édipo com o intuito de publicar a revista em fascículos, mais tarde lançada em seus doze volumes completos pela Editora Cultural Espírita (Edicel).
Ele foi um dos maiores eruditos que o espiritismo brasileiro já conheceu. É dele a visão da revista kardequiana como um laboratório de ideias, um espaço de experimentação doutrinária, conceitual, ferramenta indispensável de Kardec: "foi o seu mais importante instrumento de pesquisa, verdadeira sonda para captação das reações do público, ao mesmo tempo, instrumento de divulgação e defesa da Doutrina. Mais do que isso, porém, constitui-se numa espécie de laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas por todo o mundo, eram examinadas à luz dos princípio de O Livro dos Espíritos e controlada pelas experiências da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e pelas novas manifestações espirituais recebidas." (Revista Espírita, 1858 - Apresentação - Edicel. Grifo nosso).
Ao lado do filósofo espírita Herculano Pires, defendeu ardorosamente a filosofia espírita e marcou posição contra os desvios doutrinários perpretados pela Federação Espirita Brasileira (FEB). O Verbo e a Carne obra lançada em parceria com Herculano, é um autêntico libelo contra o roustainguismo, corrente religiosa apócrifa, adotada pela chamada "Casa Máter do Espiritismo", à revelia dos espíritos brasileiros. Junto com Pedro Granja e Jorge Rizzini, também participou ativamente do Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo, fundado por Herculano Pires em 1948.
Além da Revista Espírita, traduziu diversas obras espíritas, das quais se destaca História do Espiritismo (The History of Spiritualism), do célebre autor de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle Uma das mais fieis traduções de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o Espiritismo foram feitas por ele, lançadas pela editora Pensamento. Também traduziu As Profecias de Daniel e o Apocalipse de João (Observations Upont the Prophectes of Daniel and the Apocalpse of St. John - 1733), de Isaac Newton.
Escreveu Erros Doutrinários - O Sentido do Roustainguismo (1950), compilação de artigos publicados no periódico carioca Aurora, uma refutação do livro Elos Doutrinários, do roustainguista Ismael Gomes Braga, editado pela FEB. Esse livro está inserido em O Verbo e a Carne (1973), lançado pela Edições Cairbar. Publicou ainda as obras Poeira da Estrada, lançada pela editora Édipo e Duas Teses, contendo O Livro Espírita no Brasil e Sincretismo Religioso, temas apresentados no I Congresso de Unificação do Espiritismo no Brasil. Também pela Édipo, publicou a parrtie de fevereiro de 1950 um periódico homônimo, doutrinário e noticioso, cujo lema era: "Sempre a verdade, carinho e amor para com todos". Teve curta duração, com apenas 18 edições.
Graças ao seu abnegado trabalho de tradução da Revista Espírita, o Clube dos Jornalistas Espíritas lançou o livro Espirtismo, Sua Antiguidade, Evolução e Propagação, contendo textos selecionados e extraídos da Revista, uma grande novidade no movimento espírita da época. O livro saiu em 1951 pela Édipo, mas foi organizado e comercialziado pelo Clube dos Jornalistas Espíritas, por ocasião do 94º aniversário do espirtismo, com prefácio de Herculano.
Júlio Abreu Filho exerceu inúmeras atividades no movimento espírita paulista. Foi diretor da União Federativa Espírita Paulista, uma das quatro entidades federativas que deram origem à União Social Espírita, em 1947. A partir de 1952 passou a ser denominada de União das Sociedade Espíritas do Estado de São Paulo (USE), da qual foi membro do Conselho Deliberativo Estadual (CDE), ao lado de Herculano Pires e Pedro de Camargo (Vinícius).
Foi representante no Brasil de vários órgãos internacionais do espiritismo. Era também um orador muito requisitado. Ministrou vários cursos no movimento espírita: na União da Mocidade Espírita de São Paulo e na Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde coordenou o curso de Cosmogonia, na recém-criada Escola de Aprendizes do Evangelho, concebida em 1951 por Edgard Armond, o grande articulador da Fundação da USE. Este curso fez parte do 2º Grau da Escola, mais voltado para o estudo filosófico.
Júlio Abreu Filho foi um líndimo representante de uma geração de espíritas extremamente cultos, profundos conhcedores do espiritismo, da obra de Allan Kardec e com uma cultura enciclopédica somente comparável a de Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e Canuto Abreu. Nos últimos anos de sua existência viveu paralítico, passou por muitos dissabores, vindo a desencarnar em uma clínica, onte estava internado, em São Paulo, capital, em 28 de setembro de 1972.
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