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quarta-feira, 28 de maio de 2014

PINGA-FOGO

Por Richard Simonetti
RIE - Fev 2014

Richard Simonetti


Evangelho - 150 anos

1. Em abril comemoramos os 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Qual o significado dessa obra básica para o movimento espírita?
Assim como em O Livro dos Espíritos temos o aspecto filósofico da Doutrina, e em O Livro dos Médiuns o aspecto científico, em O Evangelho Segundo o Espiritismo está o aspecto religioso ou, se preferirmos, os fundamentos do Espiritismo como religião.

2. Nos dois primeiros livros Kardec simplesmente ignora esse aspecto?
É que o termo religião está associado ao culto exterior. Essa postura tende a ressaltar a importância da aparência, sem cogitar da essência. É a presença física nos templos, com a ausência da consciência, formando religiosos sem religiosidade, cristãos sem o Cristo, espiritualista de comportamento materialista. Por isso, provavelmente, o Codificador julgou melhor evitar o assunto.  

3. O que teria levado Kardec a mudar esta postura com o lançamento de um livro que fatalmente apontaria na direção de uma religião espírita?
Para responder a esta pergunta basta ler as mensagens medíúnicas nele inseridas, ao final de vários capítulos, que Kardec denomina Instruções dos Espíritos. São perto de cem, selecionados para publicação dentre uma quantidade expressiva, recebidas em sua maioria, significativamente, após a publicação de O Livro dos Médiuns, assinadas por grandes vultos do Cristianismo, como São Paulo, São Luiz, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, Erasto, Pascal, Cáritas... 

4. Por que significativamente?
Porque nos remetem ao aspecto religioso do Espiritismo, tanto quanto um texto filósofico nos remete à Filosofia e um texto científico nos remete à Ciência. Impossível ler um diálogo de Platão sem considerar que estamos entrando no terreno da filosofia, ou um texto de Lavoisier sem estar cogitando de ciência. Impossível ler aquelas mensagens sem considerá-las uma tomada de posição em favor do Espíritismo como religião.

5. Podemos, portanto, situar o Espiritismo como uma religião?
Sem dúvida, uma religião conforme a proposta de Jesus à mulher samaritana. Respondendo às suas dúvidas quanto ao local do culto religioso, se devia ser no templo, em Jerusalém, ou no monte Garizim, na Samaria, onde outrora existira um templo, proclamou o Mestre: Deus é Espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.

6. As pessoas que comparecem ao Centro Espírita estranham a ausência de sacramentos como batismo, casamento, crisma, bem como  missas e procissões que caracterizam o culto religioso.
Ocorre que, atendendo à recomendação de Jesus, a adoração deve ser um ato pessoal, instranferível, entre a criatura e o Criador, entre o filho e o Pai, sem intermediação, sem ritos ou rezas, sem ofícios ou oficiantes, que tendem a esvaziar a emoção, sem a qual é impossível uma comunhão autêntica. 

7. Um exemplo?
Noivos que desejam as bençãos divinas para seu casamento, em vez de elegerem um intermediário, devem eles próprios tomar a iniciativa. O que vale mais: uma cerimônia com um oficiante repetindo rezas e comentários sem vibração, com o distanciamento imposto pela rotina, ou uma evocação dos próprios noivos em oração, no círculo familiar, falando de seus anseios e ideais, prometendo-se um ao poutro?

8. Levando essa orientação às últimas consequências eliminaríamos o culto religioso e os próprios templos?
Os templos não serão eliminados. Apenas transformados em escolas, como propõe o Espiritismo, onde as pessoas estudarão os porquês da existência humana, de onde viemos, por que estamos na Terra e para onde vamos, buscando superar a visão imediatista que caracteriza o homem comum, conscientizando-nos de nossas responsabilidades diante da vida que não acaba nunca e onde nunca está ausente a justiça de Deus.

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