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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O legado centenário de Herculano

Entrevista com 
Heloísa Pires e Wilson Garcia
RIE - Ago 2014
Por Rodrigo Henrique Cabrera

Setembro marca o centenário de nascimento do jornalista, professor, filósofo, escritor e, acima de tudo, espírita José Herculano Pires. Autor de 84 livros, nas áreas de filosofia, hsitória, psicologia, parapsicologia, pedagogia, romances e doutrinários espíritas, alguns em parceria com Chico Xavier, sua obra, ainda desconhecida da maioria dos espíritas, é merecedora de homenagens mas, principalmente, de muito estudo. Heloísa Pires, filha de Herculano, e Wilson Garcia, palestrante e pesquisador espírita, falam nesta estrevista sobre a importância de conhecer e estudar a vida e a obra de Herculano Pires.


RIE - Falem um pouco sobre os objetivos e as motivações para as comemorações do centenário de Herculano Pires.
Heloísa Pires - Herculano é um profundo pensador que deve ser lembrado. Num momento em que, por um lado, os valores da sociedade fazem com que os anti-heróis estejam em alta, e por outro, vários escritores ditos espíritas não conhecem o Espiritismo,não leram Kardec e trazem apenas ideias pessoais, temos de debruçar-nos, estudar, refletir e agradecer àqueles que fizeram de suas vidas um ato de amor à Doutrina Espírita. Herculano está entre eles.
Wilson Garcia - Sem dúvida, não podemos passar em branco uma data como esta, porque Herculano Pires, entre os pensadores espíritas masi destacados, tem uma obra substancial que abrange uma grande quantidade de campos do conhecimento. As comemorações pelo centenário do seu nascimento são, portanto, fundamentais para trazer novamente sua obra ao conhecimento de todos, a fim de que as novas gerações possam conhecer um pensamento que muitos espíritas não têm acesso. É um dever nosso fazer essa homenagem para alguém que dedicou toda a sua vida a trabalhar com amor, sem nenhum outro interesse que não o conhecimento. 

RIE - E como estão sendo organizados os eventos?
Wilson - A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, que é capitaneada por Antonio Carlos Molina e composta por várias pessoas, organizou um programa em que a cada 15 dias um dos livros de Herculano Pires é abordado. Esta programação vem acontecendo na sede do Grupo Espírita Cairbar Schutel, em São Paulo, desde setembro de 2013 até setembro deste ano, quando então haverá a apresentação de um documentário sobre a vida e a obra de Herculano Pires. Será um belíssimo filme cuja produção está a cargo de Edson Audi. Há passagens de sua vida que são pouco conhecidas e precisam ser destacadas, porque são momentos em que ele tomou decisões éticas e coerentes com os seus princípios e por amor à Doutrina Espírita. Nós também estimulamos que outras regiões do Brasil fizessem eventos sobre o centenário, como aconteceu em Ribeirão Preto, nos dias 14 e 15 de março, com a realização de "Reencontros com Herculano Pires"; em Recife, no dia 10 de maio, com um dia inteiro dedicado a palestras e atividades sobre a vida e a obra de Herculano Pires, além de outras regiões, como Norte e Nordeste, onde sua obra ainda não teve muita penetração.

RIE - A Fundação também é responsável por preservar o acervo dos escritores Júlio Abreu Filho e Jorge Rizzini. Como era a relação deles com Herculano Pires e a sua importância no movimento espírita?
Heloísa - Rizzini era muito conhecido no movimento espírita. Pessoa polêmica, mas que amava  muito a meu pai, tanto que costumava beijar-lhe respeitosamente a testa numa época me que havia um distanciamento desse tipo de atitude. Também gostava muito de conversar conosco. Sua mulher, Iracema, era uma estrela brilhante. Júlio Abreu, por outro lado, era um rocha, uma potência. Meu pai o citava sempre e gostava muito dele, assim como de Deolindo Amorim e de Wilson Garcia. São todos Espíritos firmes na rota da divulgação, sem preocupação de serem divulgados. 
Wilson - É importante esclarecer que o Júlio Abreu Filho foi um homem que alguns consideravam uma enciclopédia viva e que, apesar de pouco conhecido, foi um grande batalhador do Espiritismo. Falava vários idiomas e foi o primeiro tradutor da Revista Espírita para o português numa época em que ninguém a conhecia, exceto alguns pouco que sabia ler francês. Por intermédio de Frederico Giannini, a Edicel publicou a revista em 15 volumes encardenados com capa dura, colocando-a à disposição do meio espírita nacional. Júlio também publicou um livro juntamente com o Herculano, chamado O Vermelho e a Carne. Sobre Jorge Rizzini, eu convivi com ele por 32 anos e muita coisa sobre Herculano foi ele quem me ensinou. Ele, inclusive, além de outros livros extraordinários, escreveu a biografia de Herculano. Quando a Fundação aceitou o acervo do Rizzini, ficou solucionada uma grande preocupação do autor, pois ele se preocupava sobre com quem deixaria o material que havia colecionado sobre o Espiritismo durante toda a vida, de forma a garantir que aquilo não se perdesse. 

RIE - A Fundação financia atividades de divulgação das obras de Kardec e Herculano Pires e também disponibiliza bolsas de estudos para trabalhos acadêmicos sobre o tema? Quais trabalhos a Fundação já financiou?
Wilson - A Fundação não disopõe recursos dessa ordem. Ela nasceu com o princípio de organizar o extenso material deixado por Herculano Pires. Para se ter uma ideia do tamanho deste acervo, ainda não se concluiu metade do levantamento de seu conteúdo. Os recursos da Fundação, por isso, são empregados na organização desse material e na publicação dos livros de Herculano Pires.

RIE - Vocês acreditam que os pensamentos de Herculano Pires estão inseridos no contexto do movimento espírita atualmente?
Heloísa - Hoje e sempre. Assim como o pensamento de Jesus de Nazaré, que é muito maior do que todos nós e é para sempre, os grandes pensadores não pensam a curto prazo ou sob a influência de modismos, apenas considerando o seu tempo. Eles são pioneiros, dilatam a visão global. Há um trabalho lindo, chamado Introdução à Filosofia Espírita, onde ele fala do Espírito como pesquisador da Terra, utilizando dois instrumentos: a razão e o sensório. Em um trecho da obra, ele explica que a razão sem a fé, sem o desejo de amor e justiça, fica embaçada, e a fé sem a razão gera o fanatismo daquele que se diz espírita mas é apenas um rezador.
Wilson - O Herculano tocou em diversas áreas do conhecimento; ao tocar nelas, procurou fazer a fusão com o conhecimento espírita e clareá-las ao público espírita. Ele toca na filosofia, na ciência, na poesia, no romance, na educação e caminha por todas elas como muita propriedade. Se Herculanodisse que Kardec ainda é um grande desconhecido, nós podemos da mesma forma dizer quer Herculano também é ainda um grande desconhecido.  (CONTINUA)

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