B L O G DOS E S P Í R I T O S

sábado, 16 de agosto de 2014

O poder da oração - 4

(final)
Ken Wilber


Existem diferenças visíveis entre "estar associado a uma religião" e ter o que se poderia chamar de uma "atitude espiritual independente"? Faz diferença se a pessoa reza numa igreja ou em qualquer outro tipo de templo, ou se ela reza em casa, segundo suas próprias regras? O que conta, afinal, é o comportamento, é o modo de pensar, é uma sintonia especial ou outro fator?

Eu não acredito que faça qualquer diferença. Um dos primeiros fatos básicos que descobri quando comecei minha pesquisa, mais de 20 anos atrás, é que um efeito saudável das religiosidade e da espiritualidade parecia ser uma constante universal na natureza. Isto é, quando se toma como referências ou pessoas sem um caminho espiritual ou a população como um todo, efeitos epidemiologicamente protetores ou preventivos foram observados em católicos, protestantes, judeus, budistas, hindus, muçulmanos, zoroastristas etc. Além disso, uma quantidade considerável de estudos mostrou um benefício às pessoas que, mesmo não sendo formalmente religiosas, estão envolvidas  com meditação ou outras buscas espirituais.
O Institute of Noetic Sciences, uma esplêndida organização na Califórnia, publicou um relatório excelente chamado  The Physical and Psychologica Effects of Meditation (Os Efeitos Físicos e Psicológicos da Meditação) documentando esses estudos.

O senhor entende que essa aproximação da ciência com a religião é uma tendência para o futuro? O filósfo Ken Wilber já vem se manifestando há anos a respeito ds necessidade de se desenvolver um novo paradigma, exatamente aproximando as visões científica e espiritual. O que o senhor pensa a esse respeito?

Nos últimos 30 anos, os acadêmicos dos Estados Unidos têm demonstrado um considerável interesse em explorar a interface entre religião e ciência. Porém, muito desse discurso aconteceu dentro do contexto rígido das filosofias e visões de mundo adotadas pelos acadêmicos e pelas religiões predominantes. Um "novo paradigma" que unifique as abordagens cientifica e espiritual seria certamente um desdobramento bem-vindo. Mas precisamos nos perguntar: Qual paradigma? Qual abordagem científica? Perspectiva espiritual de quem?
Ken Wilber fala para muitas pessoas que têm interesse intelectual na consciência e em caminhos espirituais alternativos, mas eu não diria que o mundo acadêmico ortodoxo esteja pronto para isso. Para boa parte da comunidade acadêmica, o diálogo entre ciência e religião é um diálogo entre uma visão muito materialista e mecanicista de ciência e uma versão cartesiana de espiritualidade, baseada num paradigma muito antigo.

Já existe alguma tentativa de se desenvolver uma teoria a respeito dessa ação da prece na melhora da saúde das pessoas, ou ainda é muito cedo para isso? O senhor entende que uma teoria desse gênero deverá estar ligada a teorias desenvolvidas pela parapsicologia, envolvendo a atuação da mente sobre a matéria? 

Uma das críticas que os céticos organizados fazem incessantemente à literatura científica sobre oração e cura é que esss estudos não podem ser verdadeiros porque não existe uma teoria que explique as descobertas. Assim, de acordo com essa critica, os resultados são impossíveis.
A crítica é errônea por dois motivos distintos. Primeiro, a pesquisa clínica estabelece uma distinção entre eficácia e mecanismo de ação. A eficácia de uma terapia pode ser demonstrada muito tempo antes de se compreender o mecanismo subjacente de ação. É o caso da aspirina, que sabíamos que funcionava antes de entendermos por quê. Ignorar ou condenar os resultados de pesquisas metodologicamente sólidas porque eles não se enquadram nas atuais teorias seria a morte da ciência. Qualquer grande novo avanço, por definição, será gerado pela necessidade de se formular uma nova perspectiva teórica que responda à dados inesperados. É assim que as coisas têm funcionado ao longo da história de ciência.
Mas a segunda razão que invalida as objeções dos céticos é muito mais básica: existem, de fato, teorias e perspectivas para nos ajudar a entender como e por que a oração pode curar. Sobre esse tópico já foi escrito mais do que eu poderia abordar aqui, mas basta dizer que há muitos anos têm surgido livros acadêmicos e artigos científicos com esse enfoque.
Propuseram-se muitos mecanismos de ação possíveis, aproveitando trabalhos estimulantes nas áreas da física, do estudo da consciência, da psicofisiologia e da parapsicologia. Todo tipo de força, energia ou campos foi cogitado, inclusive conceitos como os de mente estendida, campos mórficos, mente não local, psi,  energias sutis etc. O pesquisador alemão dr. David Aldridge escreveu muito sobre esse tópico, assim como meu amigo dr. Larry Dossey, o médico norte-americano, em muitos de seus livros, como Palavras que Curam (Healing Words, Editora Cultrix).
Acredito que a parapsicologia guarda uma riqueza de demonstrações empíricas e de proposições teóricas no que tange à oração a distância e seus efeitos de cura. Mas, infelizmente, muitos cientistas e médicos acadêmicos ortodoxos desdenham e desacreditam esse trabalho, ao mesmo tempo em que o conhecem tão pouco. Essa postura vem principalmente da ignorância e de uma necessidade corporativista de proteger o próprio território. É pena, mas isso também parece ser uma constante na história da ciência e da medicina.

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