![]() |
Victor Hugo |
" Eis o que ele fez entre nós. Eis a obra que ele nos deixa., obra alta e sólida, robusto conglomerado de blocos de granito, monumento! Obra de cujo cimo doravante resplandecerá o seu renome. Os grandes homens executam o seu próprio pedestal; o futuro encarrega-se da estátua.
Sua morte golpeou Paris de espanto. Voltara à França havia alguns meses. Ao sentir-se morrer queria rever a pátria, como em véspera de uma grande viagem se costuma ir abraçar a própria mãe.
Teve uma vida breve, mas cheia e mais rica em obras que em dias.
Ai de nós! este trabalhador poderoso e nunca exausto, este filósofo, este pensador, este poeta, este gênio, levou entre nós a vida de tempestades, de lutas, de pelejas, de combates, comum em todos os tempos a todos os grandes homens. Agora, ei-lo em paz. Sai das contestações e dos ódios; entra, no mesmo dia, na glória e no túmulo. Daqui em diante há de brilhar acima de todas essas nuvens que vedes sobre nós , entre as estrelas da pátria!
Todos vós que estais aqui , não vos sentis tentados a invejá-lo?
Por grande que seja a nossa dor à vista de tamanha perda, resignemo-nos, meus Senhores, a estas catástrofes. Aceitemo-las no que elas tem de pungente e de severo. Talvez seja bom, talvez seja necessário quem nunca época como esta, uma grande morte comunique de quando em quando aos espíritos devorados pela dúvida e pelo cepticismo um abalo religioso. A providência sabe o que faz ao colocar assim o povo diante do mistério supremo e ao dar-lhe a morte a meditar, a morte que é a grande igualdade e também a grande liberdade.
A providência sabe o que faz pois é este o mais alto de todos os ensinamentos. Não pode haver senão, pensamentos austeros e sérios em todos os corações quando um espírito sublime ingressa majestosamente na outra vida, quando um desses seres que durante muito tempo pairavam acima da multidão com as asas visíveis do gênio, erguendo de repente essas outras asas que não se vêm, vai enterrar-se bruscamente no desconhecido.
Mas não, não é o desconhecido! Não, eu já o disse em outra ocasião dolorosa, e não me cansarei de repeti-lo, não é a noite, é a luz! não é o fim, é o começo! não é o nada, é a eternidade! Não é verdade, dizei-me todos que me escutais? Féretros como este demonstram a imortalidade. Na presença de certos mortos ilustres sentimos mais distintamente o destino dessa inteligência que atravessa a terra para sofrer e para purificar-se e que se chama o homem, e dizemos conosco mesmos ser impossível que aqueles que foram gênio durante a vida não sejam almas após a morte!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário