(Do livro Diálogo dos Vivos
Francisco Cândido Xavier
J. Herculano Pires e
Espíritos diversos)
A condenação de Jesus aos ricos, tão clara no Evangelho de Lucas, não se refere à fortuna em si, mas o apego à fortuna. Se Jesus considerasse o dinheiro uma maldição não diria ao moço rico que distribuísse aos pobres. A riqueza individual e familiar é uma forma de acumulação com vistas ao futuro da coletividade. Kardec examinou suficientemente esse problema e deixou evidente o papel social da riqueza. Mas justamente por isso ela se torna, como dizem constantemente os Espíritos, uma das provas mais perigosas para os espírito encarnado.
Podemos compará-la à saúde. O homem são e forte em geral se embriaga com a sua condição e se afasta dos problemas do espírito. Esquece o que é e que terá de voltar ao plano espiritual. A prova da saúde é tão perigosa como a da fortuna. Mas ambas tem por finalidade adestrar o espírito na luta com as ilusões, com as fascinações da vida. É nessa luta que o espírito desenvolve os seus poderes internos, a sua capacidade de superar a matéria, de dominá-la como o nadador domina a água.
A parábola do jovem rico põe a nu a situação do espírito diante da prova. O jovem queria a salvação e procurava seguir os preceitos da lei para atingi-la. Sua consciência o advertia de que ele não estava fazendo o necessário. Mas quando Jesus lhe disse que se libertasse dos seus bens e os revertesse em favor dos pobres, ele não teve coragem de fazê-lo. Vender as suas propriedades e distribuir o dinheiro aos necessitados não é apenas dar esmolas. A maior esmola é a que se faz em forma de auxílio e estímulo ao trabalho. As propriedades inúteis do jovem rico podiam ser transformadas em recursos de produção, beneficiando os pobres.
A acumulação da fortuna implica no dever do seu bom emprego em favor da coletividade. Quem não a usa nesse sentido, mas apenas em benefício do seu orgulho e da sua vaidade pessoal, está colocando-se na situação do camelo que não pode passar pelo fundo da agulha. A vida terrena passa breve e o rico egoísta logo se verá diante da porta estreita do Reino sem poder franqueá-la. Quando os homens aforem capazes de enfrentar a prova da riqueza para vencer o egoísmo, a miséria desaparecerá do mundo.
A porta do Reino de Deus é estreita porque só as almas puras, aliviadas da carga da ambição e do orgulho, devem passar por ela. O rico egoísta, apegado ao seus haveres, não consegue entrar, pois não se dispõe a largar os seus fardos do lado de fora. terá de voltar muitas vezes à Terra, aos reinos dos homens para aprender que a riqueza material só o ajudará quando ele souber trocar as suas moeda de metal por atos de amor.
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