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Jose Herculano Pires, em primeiro plano. |
Há desajustes, às vezes alarmantes, nesse processo de reajuste às novas condições do mundo. Arriscamo-nos a cair no excesso de sistematizações, na centralização direcional, nos processos de coação que ameaçam suprimir a liberdade espírita. São os perigos da institucionalização. Mas para vencer tudo isso não nos falta o apoio do Alto, as mensagens esclarecedoras, as advertências de companheiros mais sensatos e livres dos prejuízos do espírito sistemático, segundo a expressão de O Livro dos Espíritos. Chico Xavier é arrancado do seu isolamento quase monacal e lançado na arena de manifestações de massa, levado aos programas de rádio e televisão, desviado da psicografia solitária para os diálogos da preparação, aturdido com as solicitações inúmeras, as interpelações incessantes, e submetido à criticas dos próprios companheiros e dos adversário da Doutrina.
Tudo isso e muito mais, que seria longo enumerar aqui, assustam os companheiros tímidos que temem pela deturpação do movimento e pelos supostos prejuízos que o médium possa sofrer. Mas como disse, num belo alexandrino, o poeta Cyro Costa: "Jesus está no leme" e tudo caminha para um futuro que era, desde o início, o objetivo doutrinário. Tudo isso tem por fim arrancar o homem da modorra da carne, prepará-lo e lançá-lo no despertar do espírito. A preparação está em curso e não temos o direito de reclamar a volta à quietude comodista do passado, ao Espiritismo caseiro e de grupos fechados que se deleitavam no seu ilusório privilégio. Deus não faz acepção de pessoas, todos somos seus filhos e a Verdade é o nosso patrimônio comum, a herança de todos os filhos de Deus.
O Espiritismo encarna em seus princípios as forças da evolução. Sua finalidade é abalar e transformar o mundo, como os discípulos disseram a Kardec. Não pode esconder-se em pequenos Centros ou em instituições messiânicas. Deve abrir-se para a vida, pois sua própria fonte, que é o plano espiritual em conjugação com a mediunidade ativa, é também a fonte da vida. Quando espírito e matéria se conjugam no ato divino da Criação , sobre o "fiat" de Deus, nada mais temos do que um ato mediúnico: o espírito manifestando-se através da matéria. A própria Criação, portanto, é um ato mediúnico. E esse ato se repete em cada encarnação, pois cada criatura que nasce na Terra é um Espírito que se serve de um médium (um intermediário) para manifestar-se entre os homens. Como limitar o conceito de mediunidade a práticas rituais ou sistematizadas e como limitar o conceito de espiritismo ao de uma seita isolacionista, ciosas de seus imaginários privilégios grupais?
Estas ideias não são novas nem pessoais. Estão nas próprias raízes da Doutrina. Figuram nas obras fundamentais e nas obras subsidiarias. Kardec e Denis, Flammarion e Delanne, Bozzano e Fredrich Myers - este último sem sequer conhecer a obra de Kardec - já proclamavam em seus livros a grandeza cósmica da Doutrina. E os fatos no desenvolver incessante da Cultura, vieram provando sem cessar, até os nossos dias, a legitimidade dessas afirmações que para muitos ainda parecem audaciosas. Os diálogos da preparação, com que nos deparamos nestes volumes de mensagens mediúnicas, representam uma fase histórica do avanço cultural do Espiritismo na atualidade terrena.
Vem de longe, como já vimos, e para mais longe avança o Diálogo dos Vivos. Ele é o próprio fluxo da vida, rompendo as barreiras falsas da morte para levar-nos aos planos superiores do Espírito. Joel, nas suas profecias, anunciou o seu desenvolvimento. Jesus o ensinou, intensificou e exemplificou com as suas manifestações. Kardec, um dos mais lúcidos discípulos de Jesus, como o declarou Emmanuel, restabeleceu-o após o eclipse teológico e deu-lhe a orientação metodológica necessária à aceitação geral dos homens. Chico Xavier hoje o realiza,com inteira abnegação se si mesmo, a serviço da causa humana e divina do Espiritismo. Não há nada a temer nem a reclamar. Só uma coisa temos a fazer: trabalhar.
São Paulo, 18 de abril de 1974
J. Herculano Pires
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