B L O G DOS E S P Í R I T O S

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sem medo da morte

Por Fernando Antonio

                 Quando Dona Catarina Dália, minha avó paterna, desencarnou, eu era um garoto de uns 6 a 7 anos de idade, pelos idos de 1952. Talvez seja esta a lembrança maior que trago daquele tempo, do tempo da minha inocência. O seu caixão no centro da sala de sua residencia, na Av. Beaurepaire Rohan, onde funcionava uma escola de datilografia, da minha tia Claudia, e uma alfaiataria de "seu" Paredes, casado com a minha outra tia, Estefânia. Lá também morava uma terceira filha de minha avó, tia Marieta, esta tida pela família como uma santa, tal a sua bondade e ternura no trato com as pessoas. Todas eram católicas fervorosas.
                  Lembro minha avó sobre o caixão, vestida de preto... o rosto branco, como vela. Lembro o velório; o cheiro de incenso ainda está impregnado na minha memória, o entra-e-sai de pessoas amigas e conhecidas da família Dália. Lembro as rezas, o fechar do caixão e a saída triste para o cemitério Senhor da Boa Sentença. O carro fúnebre à frente e todos a pé a segui-lo, numa marcha lenta e comovente. Na rua, os transeuntes paravam nas calçadas  e os homens tiravam o chapéu em sinal de respeito. Veio o momento dos coveiros baixando o caixão e aquele silêncio tumular dos presentes, também marcaram muito.
                    A morte da minha avó Catarina me trás essas lembranças de garoto, e por quê? Porque a morte era para mim algo misterioso, cheio de ritual, de muita tristeza e que eu assistia pela primeira vez. Com o passar dos anos voltei ao Boa Sentença para acompanhar sepultamentos de parentes e amigos. Ocorre que nos dois últimos, do meu cunhado, Nuno Henrique, e do meu irmão mais velho, José Wilson, eu fiz breves discursos, nos quais manifestava a minha saudade e a minha confiança de que eles iriam ficar bem em outras vidas.
                      Até então, não conhecia nada da Doutrina Espírita. Meu irmão foi sepultado em novembro de 2011 e só comecei a estudar a Doutrina em julho do ano passado. Ora, quem ouviu o que eu disse naquele dia, no túmulo de José Wilson, certamente me teriam como um seguidor do Espiritismo.  Lembro ter dito a cetra altura que meu irmão era um homem de sorte. Primeiro, porque foi cochilar, como fazia todas as tardes em sua rede, na varanda da casa do seu sítio, e não mais acordou. Os médicos constataram que ele morreu de ataque cardíaco sem sentir dor, pois assim me informaram algumas pessoas; e segundo, que agora ele está melhor do que todos nós, melhor do que eu e melhor do que meus outros irmãos, porque está na companhia de nossos  pais, Paulo e Helena. 
                       Eu então, para surpresa de muitos que me ouviam naquele instante de tristeza, falava de forma alegre, bem humorada, lembrando episódios da nossa juventude, contei alguns fatos e disse, por fim que devíamos voltar para casa tranquilos, pois Wilson estava em boas mãos. E desde aquele instante, eu comecei a pensar por que tinha dito aquilo tudo com tanta convicção. E só oito meses depois passei a estudar a Doutrina Espírita, certo de ter encontrado o caminho que me levará a terminar esta minha atual encarnação em perfeita paz. Pelo menos estou me esforçando.

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