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sexta-feira, 30 de maio de 2014

O missionário de Lyon - 2

(continuação)


                    "Nestas circunstâncias torna-se necessário não somente alguém possuidor de inteligência privilegiada, mas, sobretudo, possuidor de humildade, modéstia e desinteresse.
                    "Além disso, para enfrentar os homens numa luta de tal envergadura, deve-se possuir coragem, perseverança, inabalável firmeza, evitando a todo custo atitudes impulsivas e arbitrárias, tudo isso acondicionado pelo devotamento, abnegação e predisposição para todos os sacrifícios".
                   Sintetizaram de antemão, as "Vozes dos Céus", o perfil do missionário e os obstáculos a serem enfrentados.
                    No ano de 1867, Allan Kardec escreveu uma nota gravada nos anais da história do Espíritismo, confirmando todos os prognósticos feitos naquela memorável comunicação mediúnica.
                    Dentre outros tópicos assim se expressou o eminente trabalhador das causas das verdades eternas:
                    "Andei em luta com o ódio de inimigos terríveis, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minahs melhores instruções foram falseadas, traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços.
                    "Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso, mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho e tive abalada a saúde e comprometida a existência.
                    "Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Com este modo de proceder, os gritos dos maus jamais me perturbaram".

                   O que a nota não continha, por uma questão perfeitamente compreensível, foram os momentos gratificantes como aquele retratado numa mensagem mediúnica intitulada "Há um Século", de autoria do Espírito Hilário Silva publicada na revista O Reformador no mês de abril de 1957, cuja transcrição é feita a seguir.
                    "(...) o missionário de Lyon abriu o embrulho, encontrando uma singele carta. E leu:

                    "Sr. Allan Kardec.
                    "Respeitoso abraço.
                    "Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
                    "Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital.
                    "Há cerca de dois anos casei-me com aquele que se revelou minha companheira ideal. Nossa vida corria normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoniette partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia.
                     "Meu desespero foi indescritível e julguei-me  condenado ao desamparo extremo.
                     "Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvi seguir o caminho de tantos outros ante a fatalidade.
                     "A prova da separação vencera-me a não passava, agora, de trapo humano. Faltava ao trabalho e meu chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa.
                     "Minhas forças fugiam.
                     "Namorava diversas vezes as águas do rio Sena e acabei planejando o suicídio. `Seria fácil, não sei nadar`, pensava.
                     "Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominavam mais fortemente, busquei a Ponte Marie.
                     "Olhei em torno, contemplando a corrente... E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um obejto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.
                     "Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera.
                     "Tomei o volume nas mãos e, procurando a luz mortiça de poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre irritado e curioso.
                     "Esta obra salvou-me a vida leia-a com atenção e tenha bom proveito. A. Laurente.
                     "Estupefato, li a obra - O Livro dos Espíritos - ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo à suas mãosabnegadas, autorizando o distindo amigo a fazer dele o que lhe aprouver."
                     
                      O exemplar remetido, ricamente encardenado, tinha na capa as iniciais do seu pseudônimo e na primeria página, levemente manchada, não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra em letra firme.
                      "Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. A. Perrier"
                      Quando, no dia 31 de março de 1869, rompeu-se o aneurisma que o vitimou, o missionário divino transferiu-se serenamente para a pátria espiritual com a consciênci atranquila, pois cumprira fielmente a tarfa de revelar para a humandiade terrena a mensagem de Deus que iria modificar os panoramas sombrios do orbe terrestre. 

(José Ferraz é trabalhador da Mansão do Caninho, em Salvador-BA,
 e membro do Projeto Manoel Philomeno de Miranda.)  
                   
                   

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