(continuação)
Os maiores aprendizados da minha vida obtive na sala do consultório. É ali, olho no olho, frente a frente que nós, terapeutas conseguimos mergulhar no maravilhoso universo de cada ser humano. cada espírito é um mundo de possibilidades, de situações magnificas, de mistérios e surpresas.
É uma delícia poder participar dessa aventura que é a vida, partilhar das experiências de cada consultante e também de conhecer e aprender.No consultório, fomos presenteados com grande amizades, principalmente por parte das crianças. No olhar doce, compassivo...e no espírito evoluído de cada uma descobrimos respostas para muitos questionamentos.
Existe uma menina em especial, de dez anos, que sempre vinha se consultar porque a família dela toda estava em tratamento, e claro, ela não poderia ficar de fora, pois a mãe acredita que todos deviam se tratar. Era a caçula, muito estável emocionalmente e com os olhos que nos lembravam os monges tibetanos de outrora. Espírito antiquíssimo, elevado, altivo. Expressão curiosa e desafiadora que me testava nas primeiras consultas.
Na verdade nem poderia chamar de consultas, pois parecíamos velhas amigas falando sobre a evolução espiritual da humanidade. Assuntos como vidas passadas, reencarnação e escrituras hindus já não era novidade. Ela sabia. Sentia com o coração. Para ela, uma verdade!
E dentre suas principais inquietações sobre o mundo e sobre a vida, uma não saía de sua cabeça. Então, certo dia ela questionou:
- Será que os professores vão dar aula de forma mecânica porque não gostam do que fazem? Será que eles vão trabalhar somente pelo dinheiro? Por que eles parecem uns robôs? E quando fazemos perguntas que o desafiam, por que reagem com tanta violência? Será que eles nos detestam tanto assim? Se não estão felizes dando aula, então porque não procuram outro trabalho? Será que eles ainda não encontraram a missão da alma?
Essas eram as dúvidas que intrigavam aquela jovem mente numa tarde de quarta-feira em nosso consultório.
Essa conversa surgiu porque ela, interessadíssima no budismo e em outras doutrina da antiguidade, esperava ansiosamente por essa aula dentro da matéria de Ensino Religioso em sua escola.
Quando o dia chegou, o professor foi relatando que Budha (Sidarta Gautama) chegou a meditar por trinta dias seguidos,alimentado-se das gotas de orvalho que caim das árvores e comendo larvas que estavam ao seu redor. Com essa explanação, ela imediatamente perguntou ao professor porque o Buda era gordo, por que ele parece assim em alguns lugares e imagens. Como alguém que não come ou bebe por trinta dias pode ser gordo? E o professor perdeu-se, não sabendo responder.
Então ela mesma me disse, com suas palavras, que estava triste com a falta de profundidade do professor, de ele não saber responder algo tão simples. É como se ele estivesse dando aula de forma mecânica, só pedindo para decorar textos e palavras vazias para passar de ano, de forma superficial. A menina disse que não estudava só para passar de ano e que estudava porque gostava de pensar. (continua)
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