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Honoré de Balzac(1799-1850) |
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Túmulo de Balzac |
O romancista francês Honoré de Balzac, que faleceu a 18 de agosto de 1850, aos 51 anos de idade, foi sepultado três dias depois no cemitério Père-Lachaise, em Paris. O seu colega Victor Hugo usou da palavra na cerimônia do sepultamento, dizendo o seguinte:
Meus Senhores
O homem que acaba de descer a este túmulo era daqueles a quem a dor pública faz cortejo. Na época em que vivemos desvaneceram-se todas as ficções. Os olhares detêm-se não mais nas cabeças que reinam, mas sim nas cabeças que pensam, e o país inteiro treme quando uma dessas cabeças desaparece. Hoje, o luto popular é a morte do homem de talento: o luto nacional, a morte do homem de gênio.
O nome de Balzac, meus senhores, há de fundir-se no rasto luminoso que nossa época deixará no futuro.
O Sr. de Balzac formava parte dessa poderosa geração de homens de letras do século XIX que veio depois de Napoleão, da mesma forma que a ilustre plêiade do século XVII veio depois de Richelieu, - como se, no desenvolvimento da civilização, houvesse uma lei que aos dominadores pela espada fizesse suceder os dominadores pelo espírito.
O Sr. de Balzac era um dos primeiros entre os maiores, um dos mais altos entre os melhores. Não é este o momento de dizer tudo o que era esta esplêndida e soberana inteligência. Todos os seus livros não formam senão um único livro, livro vivo, luminoso e profundo, em que se vêm ir e vire caminhar e mover-se, com não sei que de assustador e de terrível acrescido ao real, toda a nossa civilização contemporânea; livro maravilhoso que o poeta intitulou de comédia e que poderia ter intitulado história, que assume todas as formas e todos os estilos, que ultrapassa Tácito e vai até Suetônio, que atravessa Beaumarchais e vai até Rabelais; livro que é a observação e a imaginação; que prodigaliza o verdadeiro, o íntimo, o burguês, o trivial, o material, e que por vezes, através de todas as realidades brusca e largamente rasgadas, deixa de repente entrever o ideal mais sombrio e mais trágico.
À sua revelia, queira-o ou não, admita-o ou não, o autor desta obra imensa e estranha é da raça forte dos escritores revolucionários. Balzac vai direto ao alvo. Agarra a sociedade moderna corpo a corpo. Arranca algo a todos: a uns, a ilusão, a outros, a esperança; a estes, um grito, àquele, uma máscara. Apalpa o vício, disseca a paixão. Examina e sonda o homem, a alma, o coração, as entranhas, o cérebro, o abismo que cada um leva em si. E, por um dote de sua natureza livre e vigorosa, por um privilégio das inteligência do nosso tempo que, tendo visto as revoluções de perto, percebem melhor o objetivo da humanidade e compreendem melhor a providência. Balzac emerge risonho e sereno desses estudos temíveis que produziam melancolia em Moliére e misantropia em Rosseau. (continua)
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