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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os diálogos da preparação

Prefácio de Herculano Pires

                     Há mais de quarenta ano Chico Xavier vem servindo de instrumento mediúnico para os diálogos da preparação. É impressionante o poder do diálogo. Remontando à antiguidade Grega, encontramo-lo na base de todo o desenvolvimento filosófico. Sócrates o empregou na sua maiêutica um sistema especial de dialogar para arrancar a verdade do íntimo de cada um. Mas antes de Sócrates temos o diálogo de Pitágoras com Orfeu. O filósofo matemático opunha-se às teses místicas de Orfeu, poeta e músico lendário que foi, ao mesmo tempo, o profeta-revelador do Orfismo, a religião arcaica da Grécia. E desse diálogo nasceu a síntese pitagórica, dando origem à Filosofia como indagação consciente da Razão.
         Ainda antes de Sócrates temos o diálogo perturbador dos Sofistas, os filósofos da dúvida que tudo submetiam a debates infindáveis. Foi nesse meio de palavrório inconsequente que Sócrates descobriu o caminho da Verdade. Os diálogos dos sofistas eram como o borbulhar das águas na superfície, mas Sócrates mergulhou no rio e descobriu que a verdade estava escondida embaixo da palavra. Descobriu o conceito, a ideia, e resolveu fazer como sua mãe parteira: provocar nas mentes engravidadas o parto da Verdade. Os diálogos de Platão nos mostram a que profundas consequências Sócrates levou a inconsequência palavrosa dos sofistas.
               Dando um salto no tempo vamos encontrar Kardec na França, em Paris, essa Atenas rediviva, empenhando num diálogo do qual resulta O Livro dos Espíritos. Seu papel é o mesmo de Sócrates: dialogar com os vivos da Terra e os vivos do Além, na busca da verdade. Porque Sócrates não dialogava apenas com os homens , mas também com os espíritos, como se nas suas relações com o seu Daemon, o bom demônio, (ou seja o bom espírito) que o amparava e guiava. Kardec fazia o mesmo. Toda sua vida foi um diálogo permanente com os vivos da Terra e do Além. Do diálogo, um processo de comunicação, nasceria a Dialética de Hegel, um sistema de interpretação do mundo , fornecendo ao pensamento moderno a chave do enigma - a evolução dialética.
                  Os críticos acríticos que hoje pretendem criticar a forma dialogada de O Livro dos Espíritos merecem o perdão de Deus,pois não sabem o que fazem. O mesmo se dá com as críticas formuladas aos diálogo de Chico Xavier, que em Uberaba, como o Oráculo de Delfos, se coloca entre os homens e os espíritos para que os vivos da Terra possam conversar com os vivos do Além. Cada mensagem recebida por Chico Xavier é uma resposta às indagações humanas. Não é Chico, nem são os espíritos que propõem os temas do grande debate; são os homens, as criaturas humanas torturadas por seus dramas e suas inquietações, por seus desesperos e suas angústias. Como querer que se interrompam esse diálogos, para que o médium se dedique à recepção de novos romances ou volumes de estudos doutrinários? As mensagens mais longas e mais profundas, dadas até agora, não mereceram o devido apreço dos meios doutrinários. Os homens andam muito sem tempo para estudo e reflexão, aturdidos com suas provas e expiações. É necessário insistir nos diálogos da preparação.    
                   Os problemas humanos são muitos e variados, mas no fundo relacionam-se entre si. Cada resposta dos espíritos às pessoas angustiadas vale por uma resposta às angústias do mundo. E quem não entende isso, quem não consegue captar os ensinos dados em cada mensagem, não terá condições para entender as lições mais amplas e minuciosas transmitidas através de volumes inteiros psicografados. Querem um aprova? Basta perguntar-se o que foi feito até agora da obra de Emmanuel  e de André Luiz. Salvo raras tentativas ingênuas, onde estão os comentaristas profundos, os analistas, os estudiosos dessas obras em nosso meio? Onde?!
                       Voltando ao tempo, podemos ainda perguntar:  Onde estão os estudiosos da obra de Kardec, das obras de Léon Dinis, de Gabriel Delanne, de Ernesto Bozzano, de Gustave Geley, de Camille Flammarion, e assim por diante? Onde os estudos sérios, bem planejados e realizados, com metodologia apropriada, dos temas fundamentais da Doutrina Espírita, relacionando as obras básicas com as conquistas modernas da Ciência, da Filosofia, da Religião, par anão sairmos dos três aspectos doutrinários básicos? O que vemos não é esse tratamento sistemático  e consciencioso da Doutrina, mas uma avalanche de obras inexpressivas, pretensiosas, superficiais, desprovidas de conteúdo, proposta ao meio espírita como tentativas de renovação doutrinária. As próprias obras da Codificação, somente agora estão aparecendo em edições aceitáveis, precedidas de estudos preparatórios do espírito do leitor e de informações orientadoras, em notas de pé de página, sobre as relações da Doutrina com a renovação cultural do nosso tempo. (CONTINUA)

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