
Evandro - A Revista Espírita foi o nosso primeiro trabalho de tradução, iniciado em setembro de 2001 e concluído em fevereiro de 2005. Com mais de seis mil páginas, dividas em 12 alentados volumes, serviu a Allan Kardec de laboratório experimental para que ele pudesse expor as ideias dos homens e dos Espíritos acerca dos princípios do Espiritismo que, então, dava seus primeiros passos, antes de validá-los e incorporá-los nas obras básica que viria a publicar, atento ao critério da concordância e da universalidade do ensino dos Espíritos. Foi uma especie de tribuna livre, permitindo a Allan Kardec um contato mais direto com os leitores e simpatizantes da Doutrina Espírita. Ali o Codificador se expõe todo inteiro, revela particularidades da sua vida íntima, as lutas e desafios que teve de vencer para materializar na Terra o Consolador prometido por Jesus Cristo. Embora sendo uma obra subsidiária, complementar da Doutrina Espírita, mereceu de Allan Kardec o mesmo cuidado e o mesmo carinho com que ele se houve na publicação das obras básica. Durante o processo de tradução dos volumes que constituem a Revista Espírita ocorreu-nos um fato inusitado e muito gratificante: à medida que íamos traduzindo, sentíamos-nos como que transportado para os locais eventos citados por Allan Kardec, neles tomando parte como se de fato estivéssemos presentes, circunstância que também se renovou quando traduzimos as suas viagens espíritas pelo interior da França. Em resumo, consideramos a Revista Espírita como uma das maiores contribuições de Allan Kardec à vulgarização do Espiritismo, uma verdadeira autobiografia do Codificador, um patrimônio inestimável de informações e de emoções sempre renovadas, mas a que nem todos os espiritas dispensa a devida atenção.
Reformador - Como sentiu os relatos de Kardec em Viagem Espírita em 1862?
Evandro - Realizada nos meses de setembro e outubro de 1862, foi esta a principal viagem de Allan Kardec ao interior da França a serviço do Movimento e da Doutrina Espírita. Eram tempos heroicos, difíceis, com meios de locomoção precários e sem conforto, mas que não intimidaram o Codificador em seu esforço de orientar os centros espíritas que então se disseminavam naquele país. O que caracteriza tais relatos é a surpreendente atualidade e oportunidade dos conceitos e conselhos expedidos por Allan Kardec nas diversas cidades por onde passou naquele tempo, bem como a sua preocupação com a unidade doutrinária e a união dos espíritos em torno dos postulados de que era o mais lídimo representante. O mesmo sucedeu com outras viagens que ele realizou posteriormente, na França e na Bélgica, sempre a serviço do Espiritismo, viagens que ele cobria com recursos do próprio bolso, não obstante as alusões caluniosas de que vivia à custa da Doutrina Espírita, Além disso, essas viagens permitiram a Allan Kardec estabelecer um contato mais direto com os dirigentes espíritas, auscultar suas dificuldades e necessidades, ouvir suas opiniões e dirimir suas dúvidas, sem imposições nem acomodações de quaisquer espécies.
Reformador - Há projetos para outras traduções?
Evandro - Sim. É nossa intenção traduzir as demais obras de Allan Kardec. Além da edição comemorativa de O Livro dos Espíritos, já traduzimos O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns, a serem publicados no primeiro semestres do próximo ano*. Atualmente estamos ocupados com a tradução de O Céu e o Inferno, restando por traduzir A Gênese, Obras Póstumas e O Que é Espiritismo? Nosso objetivo continua sendo o mesmo já revelado no tópico inicial desta entrevista: atualizar a linguagem dos livros e facilitar o entendimento e a compreensão dos leitores. pelo menos envidamos esforços para que assim suceda, estando sempre abertos a críticas e sugestões que possam contribuir para aperfeiçoar o nosso modesto trabalho, críticas e sugestões, que não nos tem faltado e que nos estimulam a perseverar no ideal que abraçamos com tanto carinho e dedicação.
Reformador - Com base na experiência de leitura detalhada e pensadas das obras do Codificador, teria alguma recomendação aos leitores?
Evandro - As bases fundamentais do Espiritismo estão contidas nas obras de Allan Kardec, de modo que não se pode conhecer a Doutrina Espírita sem fazer um estudo aprofundado de tais obras. O Livro dos Espíritos resume de forma admirável os conceitos que o espírita consciencioso deve esforçar-se por compreender e por em prática, visto que contém "os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as Leis Morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade". Como estudar as obras complementares, sobretudo as de cunho cientifico, sem conhecer as bases da obras fundamental? Como separar o joio do trigo, principalmente agora, quando tantas obras de procedência duvidosa e até mesmo antidoutrinária, são lançadas sem qualquer critério no mercado livreiro, cada vez mais florescente? Segue-se a leitura de O Livro dos Médiuns, que contém a parte experimental do Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese, nada impedindo que O Evangelho Segundo o Espiritismo seja lido depois dessas obras, dado o seu caráter eminentemente consolador. Finalmente o leitor não deve esquecer de Obras Póstumas e da Revista Espírita, os grande desconhecidos da literatura da literatura kardequiana, a despeito da riqueza de ensinamentos que irradia de suas páginas verdadeiramente iluminadas. Só então teremos autoridade e segurança para ler tudo e reter o que for bom.
* 2008
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